Você sabia que a forma como toma seus medicamentos pode fazer toda a diferença no resultado do seu tratamento? Um estudo de Bisson, de 2016, por exemplo, mostra que a chance de reações adversas aumenta de 5% para 40% em um paciente que faz uso de mais de 15 medicamentos diferentes. Esse número faz você pensar em alguém próximo?
Tomar um medicamento parece simples, não é?! No entanto, a forma, a hora e até o que você come e bebe junto podem prejudicar sua saúde. O uso incorreto de um remédio pode diminuir seu efeito, causar efeitos colaterais indesejados ou, pior, trazer riscos graves.
Este guia simples vai te ajudar a entender o jeito certo de tomar seus medicamentos, garantindo que eles funcionem como deveriam.
A Melhor Hora de Tomar o Medicamento: Jejum, com Comida ou na Hora de Dormir?
A hora de tomar um medicamento não é aleatória; ela é planejada para que a substância seja absorvida da melhor forma pelo seu corpo.
- Remédios em Jejum
Alguns medicamentos precisam ser tomados de estômago vazio para que o corpo consiga absorvê-los totalmente, sem a interferência dos alimentos.
O que significa “em jejum”?
Significa que você deve tomar o remédio pelo menos 30 a 60 minutos antes de qualquer refeição, ou 2 horas depois de comer.
Por que em jejum?
O alimento pode se ligar ao medicamento, impedindo que ele chegue na corrente sanguínea ou diminuindo sua eficácia.
Exemplos comuns:
- – Remédios para tireoide (como a Levotiroxina): Devem ser tomados pela manhã, em jejum, e o café da manhã só pode ser feito uma hora depois.
- – Alguns antibióticos: Certos tipos de antibióticos (como a Azitromicina) são melhor absorvidos com o estômago vazio.
- – Remédios para osteoporose: Tomar com água e esperar um tempo antes de se deitar ou comer.
- Remédios com Alimentos
Muitos medicamentos devem ser tomados junto ou logo após uma refeição.
Por que com alimentos?
1.Para diminuir a irritação no estômago: Alguns remédios, como anti-inflamatórios (Ibuprofeno, Diclofenaco) e corticoides, podem causar azia, dor e até gastrite. A comida protege a parede do estômago.
2.Para melhorar a absorção: Certas vitaminas e medicamentos precisam de gordura ou outros componentes dos alimentos para serem absorvidos de forma eficiente.
Exemplos comuns:
- – Anti-inflamatórios: Sempre tome depois de comer para proteger o estômago.
- – Alguns antifúngicos e antivirais: A presença de gordura na comida ajuda na absorção.
- Remédios à Noite
Alguns medicamentos são indicados para o período noturno.
Por que à noite?
1.Para diminuir efeitos colaterais: Remédios que causam sonolência ou tontura são mais seguros quando tomados antes de dormir.
2.Para agir no momento certo: O colesterol, por exemplo, é produzido principalmente à noite. Por isso, as estatinas, usadas para controlar o colesterol, são mais eficazes quando tomadas antes de deitar.
- Exemplos comuns:
- – Remédios para dormir (indutores do sono): Devem ser tomados na hora de deitar para evitar acidentes e quedas.
- – Antialérgicos (anti-histamínicos): Muitos causam sono e são mais bem administrados à noite.
Cuidado com as Interações: O Que Não Misturar com seu Remédio
O que você bebe ou come junto com o medicamento pode ser tão importante quanto a hora em que você o toma.
Evite as Combinações Erradas:
Álcool: A regra é simples: evite! A mistura de álcool com medicamentos pode causar sonolência excessiva, tontura, náusea e sobrecarga do fígado, principalmente com antibióticos, antidepressivos e analgésicos.
Leite e derivados: O cálcio presente no leite pode se ligar a alguns antibióticos (como as tetraciclinas e ciprofloxacino), impedindo que sejam absorvidos. Por isso, evite tomar esses remédios com leite, queijo ou iogurte.
Sucos cítricos (principalmente de laranja e grapefruit): O suco de grapefruit, em particular, pode interagir com muitos medicamentos para o coração, colesterol e alguns antibióticos, aumentando a concentração da substância no sangue e o risco de efeitos colaterais.
Chá de ervas: Alguns chás, como o de camomila ou erva-cidreira, podem ter um efeito relaxante que, combinado com remédios para dormir ou antidepressivos, pode aumentar o risco de sedação excessiva.
Café e energéticos: A cafeína pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca. Combinada com remédios para hipertensão ou para a asma, pode potencializar esses efeitos, causando palpitações e nervosismo.

Sempre leia a bula (você pode acessar o Bulário eletrônico da ANVISA AQUI) ou converse com o farmacêutico sobre a melhor forma de tomar seu medicamento. Ele é o profissional que pode te orientar e garantir que seu tratamento seja seguro e eficaz.
Referências:
BISSON, M. P. Farmácia Clínica & Atenção Farmacêutica, Editora Manole, 2006
MINISTÉRIO DA SAÚDE. O Cuidado Farmacêutico no contexto do sistema de saúde. Brasília, DF, Volume 1, 2020.
MOREIRA, T.A. et al. Uso de medicamentos por adultos na atenção primária: inquérito em serviços de saúde de Minas Gerais, Brasil. Rev. bras. epidemiol. 23 11 Maio 2020 – Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200025